quarta-feira, 23 de maio de 2007

Matéria da Caros Amigos sobre o histórico de Roseana(Parte 1)


A HISTÓRIA SE REPETE


31 de janeiro de 1966. Numa São Luís secular e suja, onde mendigos perambulam, bairros carecem de saneamento básico, esgotos a céu aberto, ratos e urubus dividem a paisagem, um jovem e fogoso deputado federal toma posse no governo do Estado do Maranhão. Ele acabava de derrotar a mais torpe das oligarquias, especialmente truculenta, comandada pelo senador Vitorino Freire, um cacique pessedista imortalizado por Rubem Fonseca como o “senador Vítor Freitas”, o homossexual violento do romance Agosto. Num discurso histórico, denunciando a miséria, o abandono da população, a violência e a corrupção, José Sarney anuncia uma “ruptura”, uma “democracia de oportunidades” e enterra a era vitorinista com caixão de segunda classe. Mesmo sendo da UDN, ele teve o decisivo apoio da esquerda. O fato de o PSP de Adhemar de Barros e da empreiteira Mendes Jr. terem irrigado sua campanha não diminui a importância histórica de sua vitória. Entusiasmado, o já famoso cineasta Glauber Rocha filma toda a solenidade. O documentário ganharia o nome de Maranhão 66 e chocaria pelo final: o belo discurso de José Sarney, denunciando as mazelas de seu Estado e o sofrimento de sua gente era reproduzido em off, enquanto cenas da miséria explícita dos maranhenses eram mostradas. Encerrando, grandiloqüente, a fala do novo governador, em que ele “jurava” acabar com a política vigente, um turberculoso agonizava em público.31 de janeiro de 2002. Numa São Luís secular e suja, onde mendigos perambulam, bairros carecem de saneamento básico, esgotos a céu aberto, ratos e urubus dividem a paisagem, uma não tão jovem governadora aparece em rede nacional de televisão, querendo ser presidente da República. Tal qual um Glauber da direita, as formas roliças de um antipático, mas competente, Nizan Guanaes conseguiram transformar em princesa cobiçada uma administradora falida. Ela exerce o seu segundo mandato no Palácio Henrique de La Rocque. Ela é a herdeira de uma oligarquia não menos torpe do que a do velho senador Vitorino Freire, mas, seguramente, muito mais corrupta e bem-sucedida. Ela é filha dileta do homem que jurou sepultar o atraso e a oligarquia há exatos 36 anos. Ela é a continuadora de um sistema político-eleitoral que humilha o seu povo com índices sociais tenebrosos. As maiores taxas de analfabetismo e de mortalidade infantil do país. As menores taxas de desenvol-vimento em todos os setores. O menor PIB do Brasil per capita, num sistema em que os amigos e correligionários não pagam o fisco estadual. Ela entregou a administração do Estado ao marido, que já foi preso por improbidade. Ela é Roseana. Roseana Sarney. Fruto do marketing, do desconhecimento e da irresponsabilidade política. Ela é um projeto muito semelhante ao de Fernando Collor de Mello. Ela é, mesmo, o Collor de saias.O DNA DE ROSEANAQuando seu pai foi eleito governador, Roseana tinha 12 anos de idade e vivia no Rio de Janeiro. Sua chegada à província foi o prenúncio do que a vida lhe reservava no Maranhão: declaradamente a preferida do pai, mimada, cercada de atenções e de carinho. Isso talvez sirva para explicar melhor uma faceta ainda obscura de sua personalidade: ela é profundamente mandona, irritadiça, temperamental e, não raro, protagoniza memoráveis escândalos e faniquitos comentados à meia voz nos corredores palacianos e na alta-roda de sua terra.Após acompanhar papai em sua campanha para o Senado em 1970, foi estudar na Suíça. Teria ido fazer pós-graduação de um curso de ciências sociais. O deputado estadual Aderson Lago, um tucano que se especializou em não dar trégua à governadora, não consegue esconder o sorriso irônico: “Não se conhece nenhum colega de turma da Roseana, e, pior ainda, apesar dessa passagem pela Suíça, ela não fala qualquer outro idioma e mal domina o português”.Em 1981, Roseana tornou-se funcionária do gabinete de seu pai no Senado Federal. Nessa época residia no Rio de Janeiro, o que nunca a impediu de receber integral e pontualmente o salário. Em 1988, por obra de uma lei muito bem-vinda, ela foi efetivada como funcionária do Senado, onde vai se aposentar com todos os benefícios. A isso irá somar sua aposentadoria de governadora. Depois de eleita, ela enviou um projeto “moralizador” à Assembléia Legislativa. Cortava uma série de vantagens do funcionalismo público estadual, além de reduzir a polpuda pensão dos ex-governadores, atingindo até o próprio pai. A primeira parte, a dos barnabés e bedéis, foi votada sem emendas pelo rolo compressor da maioria esmagadora que a obedece no Legislativo estadual. Bem, já a segunda parte, até hoje não mereceu mais que o fundo de uma gaveta qualquer...Quando seu pai, por obra das bactérias do Hospital de Base de Brasília, viu-se guindado à presidência da República, Roseana ganhou sala ao lado no próprio Palácio do Planalto. Sem contar que, junto ao marido, Jorge Murad, foi morar no Palácio da Alvorada.O SENHOR MEU MARIDOTudo parecia um sonho na vida da bela Roseana. Os humoristas de O Planeta Diário, que hoje formam a Casseta & Planeta, a celebrizaram como “a estonteante Roseana Sarney”. Sua filha adotiva, Rafaela, tinha como babá não menos que um tenente do glorioso Exército brasileiro. E os deslocamentos da família eram feitos em jatinhos da FAB, ou de 1966, ou Aníbal Crosara, da goiana EMSA. Já o maridão, o discreto, sisudo e antipatizado Jorge Murad, freqüentava com certa insistência a crônica política, que dava conta de atividades empresariais no submundo do governo Sarney. Hoje, Jorge é o homem forte do governo Roseana. Gerente de Planejamento, o equivalente a secretário, é quem manda e desmanda. Pagamentos? É com ele. Obras? Só com ele. Nomeações? Com Jorge Murad, o.k.? Ele trabalha ao lado da governadora, mas passa boa parte do tempo na avenida Colares Moreira, quadra 121, número 1, Edifício Adriano, no bairro Renascença. É lá que atende amigos empresários e administra seus negócios. No mesmo endereço está o advogado de Roseana, Vinicius de Berredo Martins. Ele também é o defensor de duas empreiteiras cujos nomes se confundem com a própria gestão da governadora: a EIT e a Planor. A EIT é a responsável por um dos maiores escândalos do governo, a “construção” de uma estrada ligando Arame a Paulo Ramos, de 127 quilômetros de extensão, ao custo de 33 milhões de dólares, entre 1995 e 1996. A Planor, que seria de propriedade de Fernando Sarney, embora registrada em nome de humildes “laranjas”, é a sócia da EIT na empreitada e com ela dividiu os lucros. O único problema é que a estrada não existe. Vou repetir: a estrada não existe. Ela jamais foi construída. Existe, sim, uma picada de terra batida, por onde desfilam, solenes, jegues e galinhas-d’angola. Os poucos automóveis que se arriscam na aventura terminam em alguma oficina mecânica, trocando a suspensão, os amortecedores ou até, quem sabe, retificando o motor que fundiu. E, como tudo no Maranhão, a oficina ou conces-sionário deverá ser de propriedade de algum membro da família Sarney.(Em tempo: todas as ações sobre a estrada-fantasma foram arquivadas. Em todas as instâncias. Até o doutor Geraldo Brindeiro, aquele da gaveta, arquivou também a representação do deputado Aderson Lago, o denunciante da milionária maracutaia.)Jorge Murad, o marido da candidata a presidente da República, não desperta amores. Dona Marly, a sogra, segundo se comenta, já gostou mais dele. Os cunhados não gostam muito. Mas José Sarney sempre o defendeu com uma frase lapidar: “O Jorginho não é casado com a Roseana. Ele é casado comigo”. Em fins do ano passado, quando sua mulher despontava nas paradas de sucesso, Murad contou com a declarada proteção do sogro. Sarney telefonou ao dono de um importante jornal de São Paulo pedindo que evitasse a publicação de uma matéria no mínimo embaraçosa para o genro. Conseguiu. Da história, além da influência do velho cacique, restou a explicação dada à redação: “Isso é pura sacanagem. Só porque ele é casado com a Roseana, isso agora aparece. Além do mais, essa matéria é puro machismo contra ela”, sapecou a editora.Mas a história é triste, reveladora e lamentável.Em meados dos anos 70, a fábrica de óleo de babaçu do empresário Duailibe Murad foi à bancarrota. Um sobrinho, escolhido pela Justiça, foi nomeado fiel depositário de toda a instalação industrial. O rapaz, entusiasmado e revelando o seu caráter, não se fez de rogado: encostou dois imensos caminhões FNM, embarcou toda a maquinaria e a levou até a cidade de Teresina, no vizinho Piauí, vendendo-a a conhecido empresário local. Foi preso dias depois como depositário infiel. Teve direito a algemas, nota em jornal e cela comum. Um escândalo. O jovem em questão chama-se Jorge Murad.
por Palmério Dória
Caros Amigos

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