quarta-feira, 23 de maio de 2007

A História de Roseana (parte 2)


MINHA FILHA, MEU TESOURO


O pai, fascinado pela herdeira, nunca deixou de escutar seus conselhos políticos. E ela, vaidosa, sempre se acreditou uma expert no assunto. Ministros foram feitos por sua vontade. Dante de Oliveira, um deputado mato-grossense famoso por sua emenda das Diretas Já (contra a qual José Sarney tanto lutou), teve a sorte de trocar a prefeitura de Cuiabá, onde enfrentava índices assombrosos de desaprovação, por um inócuo Ministério da Reforma Agrária. Arthur Virgílio Neto, deputado amazonense, disputou o governo de sua terra contra a poderosa máquina de Gilberto Mestrinho e Amazonino Mendes. Quase ganhou. Talvez tenha vencido, sendo vítima de uma proverbial técnica de apuração de votos onde o derrotado ganha. Mas o fato é que a boa retaguarda financeira de sua campanha foi oferecida por uma amiga íntima: Roseana.Flávio Jussiani Ramos, um rapaz com então pouco mais de 30 anos, sósia de Bill Clinton, chegou pelas mãos de Roseana a diretor da Caixa Econômica Federal. Antes, no Planalto, era conhecido pelo curioso apelido de “assessor da assessora”, já que carregava a pasta da amiga Roseana. Um belo dia, ao se sentir excluído de um “esquema” organizado pelo presidente da CEF, Paulo Mandarino, Jussiani recusou-se a assinar a ata de uma reunião de diretoria. Com isso, centenas de processos seriam paralisados, empresas tiveram prejuízos, mutuários seriam penalizados. Mandarino, muito amigo do presidente da República, exigiu a demissão do moço. Dias depois, foi ele, Mandarino, quem caiu. Flávio ficou e hoje é um homem rico.Mas a união com Murad, iniciada em 1976, estava indo muito mal. Os comentários tanto sobre as incursões do marido no mundo dos negócios como a respeito das desavenças conjugais eram a cada dia mais freqüentes. “Jorginho” era figura fácil na noite brasiliense, sempre acompanhado nas mesas alegres do extinto restaurante Florentino. Fotos registram essa fase boêmia. Ele já tinha sido submetido à humilhação de ser drasticamente interrogado pelos senadores José Ignácio e Itamar Franco, na emblemática CPI da Corrupção. Foi, como sempre, frio, monossilábico e evasivo. Mas deixou uma péssima impressão e não conseguiu provar sua inocência em nenhuma das várias acusações que lhe eram imputadas. Roseana, chocada, se distanciou ainda mais.Logo após, quando o governo do pai já fazia água e os sucessivos pacotes econômicos afundavam um a um, ela resolveu partir. Na verdade, a saúde não estava boa, o casamento tinha acabado e ela havia reencontrado um grande amor da adolescência. Embora hoje, de todas as maneiras, seus assessores e companheiros de partido tentem omitir, Roseana viveu com Carlos Henrique Abreu Mendes. Generosa, conseguiu com o então governador carioca Wellington Moreira Franco a nomeação de Mendes para secretário de Meio Ambiente do Estado. O casamento durou até fins dos anos 80. Em 1990, com o pai buscando um mandato de senador no distante Amapá, Roseana conquista uma cadeira na Câmara dos Deputados, na mais cara campanha já vista no Maranhão. Foi a campeã de votos. Deixou para trás o seu irmão, Sarney Filho, o “Zequinha”, um bom sujeito, que morre de medo do mau gênio da irmã. Em São Luís, sentado numa mesa do Hotel Vila Rica, um dos empresários mais respeitados do Estado e eleitor de Roseana conta a história que todo o Estado comenta: num dia de fúria, a governadora buscou pelo irmão ministro do Meio Ambiente. Cobrava mais atenção, apesar de o mano ter enviado para os cofres do Maranhão mais da metade das verbas disponíveis em sua pasta. Mas ela, como sempre, queria mais. Queria porque queria e pronto. Assim é Roseana. Zequinha, sabendo da cobrança iminente, escafedeu-se. Foi encontrado por uma irmã transtornada, que se ajoelhou no jardim da casa dele e arremessou uma pedra que espatifou a porta de Blindex em milhares de pedacinhos.“Essa moça é muito raivosa. E só tem duas amigas: a rainha de copas e a viúva Clicquot”, disse um dia o ex-governador Epitácio Cafeteira, o mais popular dos adversários políticos e inimigos pessoais dos Sarney. Foi ele, em 1994, que, por apenas 1 por cento dos votos, não tomou de Roseana o governo do Estado. Ganhou folgado o primeiro turno e por um triz perdeu o segundo, embora existam denúncias impressionantes e documentadas de uma fraude grosseira nas apurações. O colunista Márcio Moreira Alves, por exemplo, no jornal O Globo, chegou a denunciar que o próprio Cafeteira teria recebido uma fortuna para ficar quieto, aceitar a derrota e fazer corpo mole em seu recurso junto ao TSE. Jamais qualquer uma das partes respondeu a gravíssima afirmação de Marcito. Já na reeleição, em 1998, até o PC do B engrossou a coligação que deu, de lavada, um segundo mandato para a governadora.


Por Palmério Dória
Caros amigos

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